Os bastidores do esporte dificilmente vêm à tona. Quando aparecem, porém, fica escancarada a característica dos atores envolvidos, dos negócios e negociatas que envolvem o esporte e da troca de favores calcada na base do "me ajuda que eu te ajudo".
Quem, como eu, pensava que a origem das desavenças entre João Havelange e Pelé fosse a entrevista do Rei à revista “Playboy” em 1993, denunciando corrupção na CBF, estava enganado.
O próprio Pelé ficará sabendo a partir de agora, mas tudo começou muito antes, mais precisamente em 1971, quando ele quis se despedir da seleção brasileira, e Havelange o queria jogando a Minicopa no ano seguinte – um torneio que o então presidente da CBD inventou para ganhar os votos que o levariam à Fifa.
Um emissário de Pelé foi conversar com Havelange para tratar do último jogo dele com a camisa do Brasil e, perplexo, ouviu que não haveria jogo algum de despedida caso o craque mantivesse sua posição de não jogar a Minicopa.
Irado, Havelange disse para o emissário que “esse crioulo f. da p.” devia tudo à seleção e agora queria deixá-lo na mão. Acrescentou que o presidente Médici estava pressionando para que Pelé jogasse a Minicopa, e que ele não poderia deixar de atendê-lo. Havelange disse ser mentira que Pelé quisesse ficar mais com a família, porque não era disso. Segundo o emissário, Havelange afirmou que Pelé não queria era receber apenas US$ 1 mil por jogo da seleção, pois recebia US$ 3 mil pelos amistosos que fazia com o Santos.
A Minicopa, ou Torneio do Sesquicentenário da Independência, seria disputada sem a participação de Pelé e das principais seleções da Europa, pois italianos, alemães e ingleses perceberam a jogada eleitoral que estava em curso – algo semelhante à que Havelange quer fazer em 1997 na Arábia Saudita, com a Alemanha já anunciando que não participará, reunindo as seleções campeãs continentais e a mundial.
O emissário de Pelé saiu atordoado da sala do presidente da CBD, sem saber o que fazer.
Tratou de procurar o jornalista Oldemário Touguinhó, amigo de Pelé e de Havelange, para se aconselhar.
Ouviu que não deveria contar nada a Pelé para evitar uma crise de proporções incalculáveis e que deixasse o caso por conta dele, Touguinhó, que convenceria o cartolão.
Não deu outra. Pelé se despediu em 1971, e a história ficou guardada por 25 anos.
Em tempo: em 1974, o governo Geisel exigiu a saída de Havelange da CBD.
Quem, como eu, pensava que a origem das desavenças entre João Havelange e Pelé fosse a entrevista do Rei à revista “Playboy” em 1993, denunciando corrupção na CBF, estava enganado.
O próprio Pelé ficará sabendo a partir de agora, mas tudo começou muito antes, mais precisamente em 1971, quando ele quis se despedir da seleção brasileira, e Havelange o queria jogando a Minicopa no ano seguinte – um torneio que o então presidente da CBD inventou para ganhar os votos que o levariam à Fifa.
Um emissário de Pelé foi conversar com Havelange para tratar do último jogo dele com a camisa do Brasil e, perplexo, ouviu que não haveria jogo algum de despedida caso o craque mantivesse sua posição de não jogar a Minicopa.
Irado, Havelange disse para o emissário que “esse crioulo f. da p.” devia tudo à seleção e agora queria deixá-lo na mão. Acrescentou que o presidente Médici estava pressionando para que Pelé jogasse a Minicopa, e que ele não poderia deixar de atendê-lo. Havelange disse ser mentira que Pelé quisesse ficar mais com a família, porque não era disso. Segundo o emissário, Havelange afirmou que Pelé não queria era receber apenas US$ 1 mil por jogo da seleção, pois recebia US$ 3 mil pelos amistosos que fazia com o Santos.
A Minicopa, ou Torneio do Sesquicentenário da Independência, seria disputada sem a participação de Pelé e das principais seleções da Europa, pois italianos, alemães e ingleses perceberam a jogada eleitoral que estava em curso – algo semelhante à que Havelange quer fazer em 1997 na Arábia Saudita, com a Alemanha já anunciando que não participará, reunindo as seleções campeãs continentais e a mundial.
O emissário de Pelé saiu atordoado da sala do presidente da CBD, sem saber o que fazer.
Tratou de procurar o jornalista Oldemário Touguinhó, amigo de Pelé e de Havelange, para se aconselhar.
Ouviu que não deveria contar nada a Pelé para evitar uma crise de proporções incalculáveis e que deixasse o caso por conta dele, Touguinhó, que convenceria o cartolão.
Não deu outra. Pelé se despediu em 1971, e a história ficou guardada por 25 anos.
Em tempo: em 1974, o governo Geisel exigiu a saída de Havelange da CBD.
Publicado na Folha de S.Paulo em 17/11/1996
Sou um velho admirador deste eminente jornalista. Me lembro de uma série de entrevistras sobre outros temas, fora do mundo esportivo. Eram excelentes. Pena não ter continuado.
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