A notícia de que a FIFA, na sua volúpia de recursos e poder, não aceitará arcar com os "prejuízos" da meia entrada, transformou-se, de uma hora para outra, em um dos principais pontos do debate nacional. Manchetes em jornais, debates em rádios, TVs e discursos de governistas e oposicionistas destacam o tema, como se o mesmo fosse a pedra de toque para questões tão candentes como a soberania nacional e a justiça social.
Seria cômico, não fosse trágico. Enquanto uma crise financeira se avizinha e ameaça tornar a todos nós, especialmente se o "nós" significa a parte da população que vive do seu trabalho, os pagadores das estripulias dos gênios do dito "Mercado", estamos, nestas alegres plagas, preocupados com a garantia da "meia entrada" nos jogos da Copa de 2014... Parece piada, mas juro que ouvi discursos emocionados comparando a garantia da meia entrada durante os jogos da Copa de 2014 ao controle nacional sobre a Amazônia...
Uma questão inicial, basilar para o debate sobre qualquer assunto público, quase não foi tocada durante toda a semana: a quem interessa a meia entrada? Se, como dizem os acacianos, não existe almoço grátis, e alguém sempre paga a conta, quem subsidia essa brincadeira? Claro! Não é de bom tom questionar a meia entrada, especialmente nos circuitos universitários, mas basta olharmos ao redor para nos darmos conta do fato de que a meia entrada, seja para as atividades culturais ou para o acesso ao transporte coletivo, salvo raras exceções, é a fonte de uma perversa transferência de renda dos mais pobres para a classe média.
Nos cinemas, teatros e shows, os frequentadores "normais" é que bancam a meia entrada de jovens (e de gente não tão jovem assim!) aquinhoados. E, para tornar tragicômica a questão, de norte a sul, Câmaras Municipais aprovam projetos irresponsáveis de ampliação do direito à meia entrada para essa ou aquela categoria profissional sem a mínima preocupação com a fonte financeira da generosidade. No caso do sistema público de transportes, por exemplo, a saída tem sido cobrar passagens mais caras de quem tem menos.
Não há porque se manter essa injustiça distributiva durante os jogos da Copa! Entretanto, pelo que se leu durante a semana passada, não são poucos os políticos e gestores públicos que, emparedados diante da pressão por lucros da FIFA e do discurso demagógico dos jihadistas da meia entrada, propõem que as prefeituras dos municípios que sediarão os jogos arquem com os recursos para garantir o "direito". Ou seja, para variar, mais uma vez, o distinto público é convidado a pagar a fatura.
Ora, se a Copa é tão importante economicamente para o país quanto se propala por aí não seria mais razoável uma adaptação de aspectos de nossa legislação para compatibilizá-la com as exigências da FIFA? Em tempos de megaeventos, organizados por entidades supranacionais, nada mais razoável do que cada Estado-Nação, desde que assumindo tal postura em decisão soberana de suas instâncias representativas, suspender esse ou aquele aspecto de sua legislação infraconstitucional.
A opção acima esboçada, embora aceitável, não nos exime da responsabilidade de superarmos a nossa condescendência com privilégios transvestidos de "direitos", como é o caso da meia entrada. Mas esse é um debate que vai além, muito além, da Copa.
Edmilson Lopes Júnior é professor de sociologia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Nada contra cobrar entrada inteira a quem quer assistir aos jogos. Mas permitir que bebidas alcolicas sejam vendidas dentro dos estadios é uma aberração ao bom senso. Quem vai pagar a conta da violencia, dos acidentes dos hospitais?
ResponderExcluirOutra aberração é eximir a Fifa de qualquer imposto.
É simplesmente escandaloso. Não bastava a corrupção que corre solta na cúpula da Fifa?
Como assim aberração deixar q se venda bebidas alcolicas nos estadios? Esse é um costume que sempre existiu, o que não quer dizer que não deva mudar, mas acredito que a violência aumenta por milhões de outros fatores que não são tratados.
ResponderExcluirE acredito que a passagens aumentam pela ganância dos empresários do transportes com cada vez menos regulamentação. É preciso é ampliar esse direito, afinal anda tudo muito caro e tudos querem diversão e arte.