segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A culpa e o Rebanho [por Ronaldo Braga]

A culpa produz o absurdo do seu oposto e causa impressão de bondade, mas durante séculos a culpa esteve longe das paragens desérticas do interior humano e a plenitude marcava os encontros e a covardia era punida com a morte. Hoje a culpa predomina e os oprimidos que na verdade são covardes mantidos vivos vivem a sensação de serem protegidos, uma vez que por serem covardes eles não podem se proteger. Mas na verdade os oprimidos sabem que isso não é verdade, sabem que eles, os oprimidos, são apenas pretextos para expiação de culpas de cristãos poderosos que se tornam vaqueiros e tangem por pastos urbanos humanos que não aceitam a verdade humana.

Somente a maldade da culpa explica esse martírio, esse fascismo que se tornou a relação entre opressor e oprimido, duas faces do covarde. A culpa engendrada na pequenez do homem ou mulher que a sente e por isso não pode aceitar a realidade e a dureza da vida e buscam formas cruéis de serem bons.

Por que um homem defende outro? Por que um homem não pode matar outro?

A defesa é apenas uma máscara para a própria impotência, expiação menor de menores em estado de “quero morrer heroicamente, mas que pena, sou apenas um covarde”.

O homem – um ser egoísta e que vê crescer em si mesmo toda vaidade da natureza – é antes um ser não natural com um natural desejo pelo poder e pela força, um ser construído, moldável, mas que carrega em si a beleza do mal e quando fraco se torna um não-ser, um completo medroso, mas ao mesmo tempo muito potente na sua obstinada auto-repressão e na infinita capacidade de guardar rancores, de planejar pelas costas e de falar por entre frestas.

Como seria o homem ou a mulher em nosso tempo? Senão homens e mulheres oprimidos por dúvidas, culpas e covardias alimentadas na cruel realidade de assassinarem todo desejo que carregam dentro de si. Que tipo de homem pode ser construído e moldado no tempo de um deus fraco, e que morre para salvar?

A direita e principalmente a esquerda se apoderam da culpa dos covardes senhores e engendra na humanidade a sua maior desgraça que é a construção do homem boi, aquele tangido por vaqueiros que se responsabilizam tanto pela ração como pelas ruminações internas e externas do próprio homem, fazendo do covarde o ideal da vida e do forte um terrível bandido que precisa antes de mais nada serem banidos da terra. Mas ilusão pregada, ilusão perdida, e o vaqueiro dono do pasto determina tudo na vida, mas o covarde trás em si a pulsação pela traição, pela mesquinhez e ele, o covarde que se auto proclama bom, precisa de sangue para expiar a sua própria covardia.

Relação construída na mentira e negação, tanto a direita quanto e principalmente a esquerda, se tornam cruéis e desumanos, formando grupos sangrentos e covardes e eliminado o indivíduo pleno e independente, pois o temor do vaqueiro é a individualização humana, aquele que se sabe forte prefere a morte que o pasto e a ração, enquanto o fraco clama por justiça e por finalmente calar a vida e assim ele, o fraco, ser poderoso.

Sem a culpa os vaqueiros seriam relegados e desnecessários, como foram durante séculos na vida do ser humano na terra. Era a força e o fraco sem juízes, sem vaqueiros sem apelações, sem culpa e nem perdão, apenas luta e que ganhe o mais forte.

Hoje a multiplicação de fracos por toda parte tornou o homem um inseto covarde e inútil, comandado por outros insetos que por sua vez se utilizam dos filhos dos covardes bois e os vestem fardas e armas e autorização para matarem apenas em nome do Estado ou da companhia.

A maldade da bondade é o interior de nossa cultura, não aceitar a força natural do humano é a construção da substituição do homem pelo boi e do boi pelo homem, é a eliminação de ações gigantes e belas que o passado assistiu e admirou e a criação do cliente, imbecil feliz e comandado por ideias de outros e completamente alheio a si mesmo.

O que pensa uma pessoa? Hoje tranquilamente apenas ser escravo de algum grupo poderoso de covardes e receber um salário e ordens e ser chamado de cidadão.

É, a vida humana se acabou, temos agora o mundo formado por melancólicos fantasmas que se vigiam, afinal viver é somente uma mera lembrança de um passado que não volta mais, enquanto isso, vaqueiros e massa se amam entre guerras, fomes, fascismos e sempre falando e ouvindo frases e palavras belas e confortantes.

A felicidade guardada no cofre é agora contada em cédulas ou assassinatos.

O fantasma anda e é o desejo oculto.

Um comentário:

  1. cazzo muito obrigado pela postagem e assim vamos atentos e desde já preparado.

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