Sim, há tempos sofro de pessimismo compulsivo
e desilusão crônica. Mais: desde o início da campanha eleitoral deste ano,
assumo, convicto, que sou também um ressentido incorrigível quanto aos caminhos
e atalhos escolhidos pelo partido dos trabalhadores nos últimos doze anos. Reconheço,
com ressalvas, as mudanças ocorridas na vida econômica dos menos favorecidos e
aponto dedo em riste, irritado, triste e frustrado, todas as falhas: da inexistência
de um plano de educação real e eficiente à demasiada importância que se dá aos
programas assistenciais e à sempre nefasta ideia de governabilidade sem
critérios – subir em palanque com Fernando Collor é ainda mais vexatório do que
soltar os cabelos e fazer campanha para Aécio. Ainda assim, confesso: por causa
da plebe votarei em Dilma.
E a motivação para abrir mão do convicto voto
nulo que milito nas ocasiões eleitorais, desde que me decepcionei com os
primeiros quatro anos de Lula no poder, não tem traço algum no sentido de
validar bolsa-família, cotas, Copa do Mundo ou programas sociais colocados em
prática somente depois das manifestações de junho do ano passado. A plebe (muito além da dimensão socioeconômica, tornou-se um estado
de espírito)
me força, me obriga a votar em Dilma. Passarei por tal humilhação porque essa
gente – mal educada (no sentido de sua formação intelectual) e dada a cabrestos
nos moldes coloniais –, através do voto, elegeu a Câmara mais conservadora
desde o golpe de 1964, de acordo com
levantamento do Diap, o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar.
Em
números, o susto é maior e melhor explicitado: são 80 evangélicos; 70
ruralistas; e 20 com o pé nas forças armadas da pior estirpe de nosso país. Se entramos
em detalhes, fica ainda mais transparente e estarrecedor: em São Paulo, os três
mais votados foram Celso Russomano (herói das massas consumidoras), Tiririca e
Marco Feliciano; no Rio de Janeiro, a contradição comum de analfabetos
políticos se fez presente quando reelegeram Bolsonaro e Jean Willys. Com Dilma,
mantém-se a tentativa de equilibrar os interesses e eles, os caretas,
permanecem fortes. Com Aécio no poder, decerto, os caretas ganham poder.
Graças
à festejada ignorância política de nossa plebe, o desequilíbrio de forças continuará
gerando, obviamente, males que nem mesmo futuros junhos de 2013 darão jeito. De
forma precisa, 74% da nossa legislação terá, nos próximos quatro anos, as inevitáveis
marcas: a manutenção das mortes no campo, que nunca são notícia; a
intransigência, pautada em mistificações pentecostais, para debater maconha e
aborto como questões de saúde pública; o retrocesso que começa no desprezo a mudanças
no código penal, passando pela negligência desavergonhada com as nossas escolas
públicas, culminando na defesa da maioridade penal como forma de resolver o
problema da criminalidade no país.
Creio que o
ideal seria oxigenar a democracia, como disse Cristovam Buarque. Mas, o
evidente nivelamento por baixo das opções que se apresentaram também me faz votar
na Dilma: Aécio é o porta-voz de uma direita envelhecida e oligárquica (seu
vice é o criminoso Aloysio Nunes e Marin, atual dono da CBF, seu principal cabo
eleitoral); Eymael, Fidelix, Pastor Everaldo e o cômico e cínico Eduardo Jorge na
incessante busca por cargos (típica ação de partidos nanicos); Luciana Genro
fazendo crer coerência até no que é impossível democraticamente (por exemplo, regulamentar o uso de drogas deve passar, antes, pelo Congresso, qualquer ação
presidencial, sem esse trâmite, soará ditadura); quando ainda havia Eduardo
Campos, admito que via, com muita cautela, alguma perspectiva de algo novo,
mas, aí, veio a Marina Silva; e os esquerdoides, aqueles que andam roucos de
tanto ladrar, não merecem comentário algum.
Sim, serei
obrigado a votar e Dilma, virando a cara e tomado de vergonha por ser compatriota de uma
gente que elegeu senador um sujeito que sofreu justo linchamento moral, via impeachment, por ser cidadão de um país
que mitifica o outrora operário que, quando no mais alto posto de uma
república, no Jornal Nacional, declarou, sem indignação e cínico como um
tirano, que caixa dois, no Brasil, é prática comum dos partidos políticos.
Assim,
desistam, petistas de ocasião: não farei uso de avatar da Dilma em rede social,
nem compartilharei postagens com dados mais quantitativos do que qualitativos
sobre as ações do governo para me contrapor a Aécio. Como modo de não ser
confundido com essa esquerda festiva, pretendo mesmo evitar a cor vermelha (ou
algo que se aproxime desta) nas minhas roupas no dia da eleição.
nem por ela cazzinho
ResponderExcluirvoto nulo
forte abraço
nuno g.
eis que mais uma vez
ResponderExcluiro poeta camponês
segue com a lucidez:
http://www.americalatindo.blogspot.mx/2014/10/o-peixe-patativa-do-assare.html
outro abraço cara