Ao
contemplar uma exposição de carnes num mercadinho de bairro, cheguei à seguinte
conclusão: o vegetarianismo é uma grande bobagem. Logo no primeiro instante em
que me deparei com aquele varal de bichos mortos – esteticamente bem
posicionados, suas cores distribuídas de maneira concisa, combinando com o
ladrilho manchado da parede – me peguei surpreendido, constatando o que há
algum tempo ouvi o poeta Affonso Romano de Sant’Anna dizer: “Não existe morte.
O que existe é vida alimentando vida”. Sim, o sangue que ainda escorria de um
volumoso pedaço de boi ali exposto me encheu de vida.
Discussões
advindas de experimentações, conclusões científicas quanto aos benefícios ou
males da dieta vegetariana são sempre válidas pelo simples fato de que jamais
serão absolutamente conclusivas. Adeptos do capim e afins defendem que excluir
animais do prato os protege de doenças cardiovasculares ou outras tantas
originadas do excesso de gordura. Já os carnívoros convictos usam como
principal argumento a ausência do ferro e da vitamina B12, essenciais para a
formação das hemácias e da hemoglobina.
O
que deve, de fato, ser desprezado é o cientista que defende a ingestão de
carnes que tem lá seus compromissos com a inescrupulosa indústria alimentícia –
em função de experimentações agressivas à saúde humana, como a inserção de
composições químicas para um crescimento mais rápido dos frangos, fazendo-os
prontos para o abate em curto espaço de tempo. Mas, fora o discurso contrário à
utilização de macacos e ratos como cobaias de testes para curas de doenças em
seres humanos – talvez estupradores fossem animais ideais para tal situação –, também
costumo dar pouca valia aos defensores da alimentação vegetariana seja por motivações
religiosas, seja porque ficam tristes ou indignados com a matança de animais
transformada em aperitivo comum nos pratos nossos de cada dia.
Pois
bem, afirmar que cachorro tem alma (e o que é mesmo alma?), que papagaios falam
(não, eles não falam, apenas reproduzem o que dizemos), que elefantes sentem
quando vão morrer, inevitavelmente, não passam de crenças. Há quem creia que um
sujeito morreu num dia e três dias depois ressuscitou. Diante disso, acreditar
que vinho faz bem ao coração chega a ser, no mínimo, plausível de se acreditar.
Mas o que me leva a insultar, com a boca mastigando carne cheia de nervos, o
sentimentalismo em prol de vacas, bois, galinhas, frangos, peixes e crustáceos
é não entender muito bem em que vacas, bois, galinhas, frangos, peixes e
crustáceos são melhores do que micróbios e bactérias sempre presentes entre
nós, nas nossas peles, no beijo que nos damos, no aperto de dentro do ônibus,
na comida e na bebida que ingerimos? Ou seja, tudo é vida.
Pregar
o vegetarianismo como um jeito de se alimentar mais saudável, considerando
ingerir carne como o grande vilão da vida humana, é menos estúpido do que
inserir neste discurso o sofrimento do porco que será abatido ou a angústia do
boi frente ao machado que lhe será cravado à cabeça. Sofrer e angustiar-se, até
onde é possível comprovar, são sensações que ocorrem em homens e mulheres. Mas
há quem defenda que cachorros sentem saudade. Certo mesmo é que tudo não passa
de mera especulação, tão inconclusiva quanto a existência ou não de deus.
E
por falar em sagrado, tanto a guerra que travamos com micróbios, bactérias,
fungos e vírus quanto a rede abarrotada de peixes arrastada para a beira do mar
são eventos essenciais à existência humana, equivalentes à ilusão de
consagrarmo-nos sábios pelas nossas escolhas, desprezando, em absoluto, o
possível fato de que, em alguma medida, não passamos de meros seres ignorantes
de nossa ínfima contribuição no único e inevitável ciclo: nascer e morrer em
favor da vida.
pois é, da série provocações - barata- de cazinho, rs. pois bem, não acho o vegetarianismo uma bobagem, bobagem é menosprezar tal. A ver se me explico...o problema pra mim reside na industrialização do alimento, o q comemos hj é uma noção de tomate mas tomate mesmo já não conhecemos, assim é com morango, com o ovo, com a galinha, com a carne, com quase tudo q ingerimos. a terra está contaminada, as sementes estão contaminadas, o ar está contaminado, tudo está contaminado, tudo um grande câncer. Pra mim aí é o grande problema, a industrialização do alimento, o problema não é comer carne pq faz mal a isso e ou aquilo, o problema é da onde vem essa carne, de como ela é produzida. pq os animais já não tem sua vida animal, e por isso sim, acredito q nos traz grandes problemas de saúde, mas isso vale pro leite, pro ovo, pra manteiga, pro morango, pro tomate, pro pimentão. a industrialização do alimento destruiu a natureza e a cultura. já q uma vem com a outra. padronizou um tipo de alimento, que todos devem consumir, não são mais respeitados os ciclos, as estações e o q a terra dá, come-se de tudo em qlqr época do ano em qlqr lugar, e convenhamos, isso não é possível dentro de uma lógica da natureza-cultura cíclica, em movimento, em sintonia.
ResponderExcluirLeia mais sobre o vegetarianismo... FAlou ?
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